Uma coalizão de organizações ambientalistas e de defesa do consumidor, reunida no movimento Right to Repair Europe, apresentou um apelo formal à Comissária Europeia de Meio Ambiente, Jessika Roswall, exigindo que a União Europeia adote regras mais rígidas para fabricantes de dispositivos eletrônicos. O pedido central é que empresas sejam obrigadas a oferecer até 15 anos de atualizações de software e de segurança para notebooks, tablets e outros aparelhos digitais, medida que, segundo os ativistas, pode representar um divisor de águas na luta contra a obsolescência programada.
O problema é conhecido, mas ainda pouco enfrentado: muitos equipamentos deixam de receber suporte oficial quando ainda estão em perfeito funcionamento, tornando-se obsoletos de forma artificial. Para especialistas, essa prática estimula um descarte prematuro, aumenta os custos para consumidores e aprofunda a crise do lixo eletrônico, que já é um dos fluxos de resíduos que mais crescem no mundo. A proposta da coalizão é alinhar o ciclo de suporte digital ao ciclo de vida real do hardware, prolongando a utilidade dos aparelhos e reduzindo a pressão para substituições forçadas.
O debate ganhou maior repercussão no último Dia Internacional dos Resíduos Eletrônicos, em 14 de outubro, quando a Microsoft liberou a última atualização gratuita do Windows 10. A partir dessa data, os usuários passaram a ter apenas duas opções: pagar por um serviço de segurança estendido, conhecido como ESU (Extended Security Updates), ou migrar para o Windows 11, desde que possuam um computador compatível com requisitos como o chip TPM 2.0 e processadores mais modernos. Quem não atende a esses critérios simplesmente ficará sem suporte oficial, ainda que seu computador esteja em perfeito estado de funcionamento. Para muitos analistas, o episódio funciona como um alerta de como grandes corporações podem acelerar ciclos artificiais de descarte em escala global. Esse movimento não se restringe ao universo dos PCs. No setor de smartphones, a prática se repete. Modelos de iPhones considerados antigos, por exemplo, já têm prazo definido para perder suporte com a chegada do iOS 26, o que pode deixar milhões de aparelhos sem atualizações críticas de segurança. Esse tipo de decisão tende a criar um efeito dominó, estimulando o consumo acelerado de novos dispositivos, aumentando os impactos ambientais e pressionando famílias e pequenas empresas a substituírem equipamentos com frequência cada vez maior.

A União Europeia, no entanto, já se encontra no centro dessa discussão. Atualmente, Bruxelas avalia um novo regulamento de ecodesign que obriga fabricantes a garantirem pelo menos cinco anos de atualizações para smartphones e tablets. Embora seja um passo importante, o Right to Repair Europe considera que esse prazo ainda é insuficiente, principalmente quando se trata de notebooks e computadores pessoais, que podem funcionar perfeitamente por mais de uma década. Para o grupo, a solução deve ser a criação de normas horizontais de suporte, que adaptem a duração das atualizações à expectativa de vida útil de cada categoria de dispositivo, em vez de impor uma regra única para todos os produtos.
A reivindicação, portanto, vai além da tecnologia: trata-se também de uma questão ambiental, econômica e social. Ao estender o tempo de suporte digital, seria possível combater de forma mais eficaz o desperdício, reduzir o volume de lixo eletrônico, aliviar a pressão sobre os consumidores e devolver a eles o direito de escolha sobre quando trocar de aparelho. Como resumiu a coalizão em sua carta à Comissão Europeia, enquanto o hardware continuar em boas condições de uso, o software não pode ser o fator determinante para empurrar milhões de dispositivos ao descarte.
A decisão agora cabe às autoridades em Bruxelas, que têm em mãos a oportunidade de estabelecer um marco regulatório capaz de redefinir a relação entre tecnologia e sustentabilidade. Se adotada, a proposta não apenas mudaria o equilíbrio de forças entre consumidores e grandes corporações digitais, mas também ajudaria a construir um futuro em que inovação e responsabilidade ambiental caminhem lado a lado.

Fontes: Cyber Risk GmbH ; WBS.LEGAL