A Conferência das Partes, mais conhecida como COP, é o principal fórum internacional de negociação sobre mudanças climáticas. Criada em 1995 dentro da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), ela reúne quase 200 países, além de cientistas, representantes de organizações da sociedade civil, empresários e ativistas. A cada edição, a COP carrega consigo uma mistura de expectativas, tensões e a esperança de que a humanidade encontre soluções coletivas para enfrentar a crise climática.
Desde seu início, a COP produziu marcos importantes. Em 1997, foi assinado o Protocolo de Kyoto, o primeiro acordo internacional que estabeleceu metas legais de redução de emissões para os países desenvolvidos. Anos depois, em 2015, durante a COP21, nasceu o Acordo de Paris, considerado até hoje um dos maiores símbolos de união global frente ao aquecimento do planeta. O tratado estabeleceu a meta de limitar o aumento da temperatura média global a no máximo 2 °C — com esforços para não ultrapassar 1,5 °C. Mais do que isso, o acordo representou um avanço ao reconhecer que todos os países, ricos ou pobres, têm responsabilidade sobre as emissões de gases de efeito estufa, embora de forma diferenciada.
No entanto, apesar dos compromissos assinados, a distância entre o discurso e a prática continua preocupante. Muitas promessas não saíram do papel, e as emissões globais seguem em trajetória de alta. Países historicamente responsáveis pela maior parte da poluição atmosférica mantêm níveis elevados de produção e consumo, muitas vezes transferindo suas emissões para países em desenvolvimento. Ao mesmo tempo, o financiamento prometido para apoiar nações vulneráveis não tem se concretizado de forma consistente. Um exemplo emblemático é o fundo de US$ 100 bilhões anuais, prometido há mais de uma década, mas que raramente foi entregue como esperado. Esse cenário é agravado por tensões geopolíticas. A guerra na Ucrânia, os conflitos no Oriente Médio, as disputas comerciais entre China e Estados Unidos e o crescimento de discursos negacionistas em diferentes partes do mundo dificultam a construção de acordos ambiciosos e colaborativos. Embora a transição energética esteja em andamento em alguns países, como os da União Europeia, o avanço é desigual. Muitas nações do Sul Global ainda enfrentam sérias limitações estruturais para implementar políticas sustentáveis em larga escala.

COP30 na Amazônia: esperança e realidade
.Nesse contexto, a realização da COP30 em 2025, na cidade de Belém, no coração da Amazônia brasileira, ganha um peso simbólico e estratégico. A floresta amazônica é essencial para o equilíbrio climático global. Ela atua como um gigantesco reservatório de carbono, influencia os padrões de chuva em todo o continente e desempenha um papel central na estabilidade do clima da Terra. Ao sediar a conferência, a região amazônica pode ganhar maior visibilidade internacional e pressionar por compromissos mais efetivos de preservação, desmatamento zero e financiamento para soluções sustentáveis adaptadas à realidade local.
A presença da COP na Amazônia também abre espaço para que os líderes globais tenham contato direto com os desafios e oportunidades da região. Questões como a valorização da economia da floresta, o papel das comunidades indígenas e a busca por desenvolvimento com justiça socioambiental tendem a ganhar destaque. Isso pode gerar um senso de urgência mais conectado à realidade concreta da crise climática. Porém, é importante manter o realismo. A COP30 não será um evento que traz soluções mágicas. Trata-se de um espaço de negociações diplomáticas, onde os avanços são graduais e muitas vezes cercados de impasses. Ainda assim, é um dos poucos fóruns internacionais onde decisões são tomadas com base em evidências científicas e ouvindo múltiplas vozes — inclusive as de populações historicamente excluídas.
Mesmo imperfeitas, as decisões que emergem das COPs criam referências mínimas de responsabilidade pública e fornecem uma base para que a sociedade civil e o setor privado cobrem mais ação. A pressão exercida por essas instâncias tem sido crucial para manter o tema climático na agenda global e para garantir algum nível de prestação de contas por parte dos governos.
O futuro das COPs dependerá da capacidade de alinhar, com urgência, a vontade política à gravidade dos fatos. A ciência já deixou claro: o planeta ultrapassou vários limites ambientais, e continuar postergando decisões estruturais nos empurra para um colapso climático cada vez mais próximo. Ainda assim, há outro caminho possível. É preciso repensar os fundamentos do nosso modelo de desenvolvimento e buscar alternativas regenerativas, justas e equilibradas. E a COP pode — e deve — ser a arena onde esse modelo começa a se concretizar. O que está em jogo não é apenas a redução de carbono. É a forma como vivemos, produzimos, nos relacionamos e existimos em um planeta que tem limites. Por isso, mesmo com todas as suas falhas, a COP ainda é necessária. É lá que o futuro da humanidade pode, de fato, começar a mudar.
Fontes: Agencia Brasil; Sebrae; The Conversation; United Nations